
Estudo revela impacto ambiental e social e ajuda a traçar diagnóstico da pesca artesanal da Paraíba
Entre barcos de madeira envelhecidos, redes remendadas e histórias que atravessam gerações, pescadores paraibanos começam a contar como está a realidade da atividade que sustenta suas famílias. O levantamento é realizado pelo Programa Estratégico de Estruturas Artificiais Marinhas (Preamar) que coleta dados sobre o pescado, as embarcações e a renda das comunidades, oferecendo um retrato inédito da pesca artesanal no estado.
Alessandro Costa, 46 anos, dedica-se à pesca artesanal há mais de duas décadas. Morador de Cabedelo, onde vive com a esposa e duas filhas, ele está momentaneamente afastado do mar por problemas de saúde, mas mantém um barco em Tambaú, em parceria com o pai. “É uma vida perigosa, mas é dela que vem o sustento da minha família”, resume. Ele percebe de perto a redução do pescado: “Antes, meu pai tirava 400 quilos em apenas três dias. Hoje, passamos sete dias no mar para conseguir 50 quilos”. A experiência de Alessandro ilustra o que o Preamar busca confirmar por meio de dados sistematizados.
Agentes de campo vem percorrendo o litoral de João Pessoa, Cabedelo, Lucena, Pitimbu, Acaú, Conde, Mataraca e Baía da Traição. Enquanto conversam com os pescadores, aplicam questionários e medem alguns peixes.
“Nesse trabalho vamos descobrir quais peixes estão diminuindo ou aumentando, se algum desapareceu e se há peixes invasores. Junto aos estudos ambientais será possível entender os motivos dessas mudanças e buscar soluções”, explicou a agente de campo Nívea Costa.
O último levantamento da pesca na Paraíba foi realizado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em 2011, mas de forma parcial, após a interrupção após mais de uma década. A pesquisadora Ruth Amanda Estupinan, integrante do Preamar, explica que agora o estudo é mais detalhado. “É um trabalho desafiador porque estamos conhecendo a realidade dos pescadores. Temos dados de estados vizinhos, como Rio Grande do Norte e Pernambuco, mas não da Paraíba”. As informações coletadas vão alimentar um banco de dados
relacional, permitindo cruzar variáveis e acompanhar mudanças ao longo do tempo.
Os resultados também devem subsidiar iniciativas como a instalação de recifes artificiais em pontos da costa paraibana, que fortalecerão a pesca artesanal e abrirão espaço para o turismo náutico, segundo o coordenador científico do programa, Cláudio Dybas.
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